Não me digas que se esqueceu. Eu ainda tenho teu cheiro colado em mim, o tom de voz dentro de meus ouvidos. Ainda te ouço, às vezes, mesmo sem estar perto. Costumava dizer que o ouvido é para o que se ouve realmente, o que se fala uma vez fica guardado na mente, nos nossos corações. Um ouvido é da realidade, outro é da saudade. Sinto falta de quando sentava pra ler no sofá, forrava-o com um lençol branco, e colocava os pés de lado. Ligava um bom blues e não sabia se lia, cantava ou me puxava pra dançar. E isso te trouxe de volta. Por isso ainda estou com seu cheiro colado em mim. Ainda está dentro de mim. Você por inteiro. Dos olhos aos pés. Da tua boca colada na minha. Eu disse que não esqueceria. Você permanece em todas as coisas. Painel de fotografias, sorrisos congelados. Essa mania de tentar viver do passado nos aprisiona, nos condena. E gostamos da sensação que o “naquela época, éramos felizes e nem sabíamos” - quando é que notaremos a nossa hora? Se nem Shakespeare sabia…Eu guardo isso, tal como teoria dos ouvidos — e é também por isso que ainda te ouço aqui, agora: Mesmo que estejas quilômetros, quilômetros de distância, o meu ouvido da saudade traz-te sempre aqui, como o vento.
P.s.: Me disse que não ia se esquecer de mim, mesmo se morássemos em cada ponta do mundo… Nada feito, mas eu permaneço aqui, com pensamentos intactos.
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