Não me resta muito além do tal. Como teimo em dizer, sinto muito mais do que posso. Mas as circunstâncias me obrigam a desviar, por hora, as palavras dessa direção. Não que seja fácil. Me custa escrever qualquer frase completa diferente do seguro e vasto vocabulário que possuo para falar de amor. Porque falo antes, durante e após. Sempre me escaparam pelas mãos, ou mesmo pelos lábios, declarações perigosíssimas, das quais nunca me arrependi. Somente agora, ao ter que dedicar-me ao desconhecido e temido "fale de outra coisa", me culpo um pouco por não ter explorado outros dicionários. De qualquer forma vou buscar me esforçar para esconder qualquer deslize ou resquício do sentimento em metáforas. Pois bem, poderia lhe falar dos clichés dramáticos de uma separação, ou de lembranças boas da minha infância, ou até do que fiz na noite da sexta passada. Mas como me parece impróprio falar coisas tão comuns a um desconhecido, prefiro falar-lhe, aleatoriamente, de algo que nunca contei a ninguém. Talvez nem a mim mesma. E para começar, digo logo: tenho medo de qualquer forma de solidão. Tenho horror a sons repetitivos que duram mais de 1 minuto. Tenho dormido abraçada a um travesseiro para compensar a ausência de um corpo ao meu lado. Essa semana já li um mesmo texto 27 vezes. Ontem fui ao mercado e não tinha o iogurte que eu gosto. Hoje de manhã chorei um pouco. Tenho 3 letras de músicas pela metade nas notas do meu celular, e pelo visto vão ficar por lá. Dias nublados me deixam um pouco mais do que triste. Ontem encontrei um ingresso de cinema, desses filmes que a gente não esquece com quem assistiu, no bolso do meu casaco. E deu saudade. Deu saudade do colégio, do cheiro das apostilas de matemática, dos corredores, das festas de 15 anos, das fotos de turma, dos sonhos impossíveis, dos gostos musicais vergonhosos, do primeiro salto alto, da primeira cerveja. E deu saudade de muito mais... Mas por hora, devo fingir que não sei falar do resto. Só até isso passar. Ou só até eu passar. Porque, sabe, não me resta muito além do tal. Como teimo em dizer, sinto muito mais do que posso.
jeudi 14 mai 2015
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