Ser olhado é uma delícia, não negue. Ver, pelo canto dos olhos, que te observam como se observassem uma obra de arte é algo indescritível. E a melhor plateia é aquela de um só. Então posamos para essa fotografia cuidando de cada detalhe a ser consumido. O silêncio intercede e todo estalo é um arrepio maravilhoso. O cabelo caindo pelo ombro, o pescoço à mostra, as costas nuas, a boca levemente entreaberta. Tudo o que nos dá fome de apreciar, vestimos para o outro. E o melhor é sentir a resposta: o sorriso imediato, a mordida no lábio, a passada de mão no cabelo, o impulso de correr para você, a hesitação seguinte, o longo suspiro, os olhos acompanhando cada curva do seu corpo, os passos lentos em sua direção e, finalmente, os braços te envolvendo e um "eu te amo" ao pé do ouvido que mais parece uma promessa de nunca mais te soltar dali. Há também os dias de ser sobremesa, quando ao tomar café, seus olhos tiram sua roupa, seu fôlego e te devoram num instante.
E em meio a todo esse contentamento, digo que sei bem o porquê de todo esse prazer por ter a própria imagem desfrutada e desconstruída. Pelo simples fato de que amamos estar do lado oposto, na mesma proporção. Delinear suas costas nuas quando ele não está vendo. Comê-lo com os olhos, de repente, à mesa do café. Acordar mais cedo só para gastar as horas contemplando-o a dormir ao seu lado. Mas também dizer o que não conseguimos pôr em frases faladas. Vê-lo chegar e deixar que os olhos gritem sua felicidade. Estar no meio de um abraço e deixar que os olhos transbordem a sorte de tê-lo. Virar para ele no meio da noite e deixar que os olhos sussurrem "eu te amo", mesmo que ele não veja...
Porque essa é a delícia de ver e de ser visto. Afinal, somos humanos. Não costumamos dar ao outro um prazer do qual não nos alimentamos também.
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